“Não me subestime. Sou bem mais que os olhos podem ver.”
Imagem meramente ilustrativa.
Nós estávamos aqui antes dos colonizadores chegarem. Nosso nome original há muito se perdeu, éramos “o povo criança”, devido a nossa eterna aparência infantil. Mesmo os mais velhos entre nós parecem somente crianças com fios brancos na cara. Vocês nos chamam de "sacis", um rótulo que atualmente nos resume a folclore e histórias infantis, diferente do passado, quando éramos respeitados pelos nativos, pois descobrimos nossos poderes antes dos humanos. Nossas habilidades vêm de um lugar chamado “mundo dos sonhos”, um plano que vocês só conseguem acessar em estados alterados de consciência, mas que tem uma ligação natural com minha raça.
Todo esse poder não serviu de nada com a chegada dos colonizadores. Assim como os humanos nativos foram dizimados, os sacis quase se extinguiram. Para sobreviver, tivemos que nos esconder entre os escravos e sofrer com eles. Nossa ligação com o mundo dos sonhos foi enfraquecendo cada vez mais, até que vários de nós se tornaram somente humanóides pequenos e frágeis, sem nada especial. A única forma de ter acesso aos poderes do sonhar é através do consumo de ervas em cachimbos especiais que ganhamos em um ritual de iniciação ao chegar à maioridade.
Ou pelo menos, foi essa a história que meus pais me contaram. Meu nome é Samanta e sou uma das últimas descendentes do povo saci, uma das poucas que sabe essa história. Nasci e cresci na periferia, com meus pequeninos pais dando duro para colocar comida na mesa, limitados tanto pela condição social, quanto pelo medo de chamar atenção demais. Mesmo no século 21, o mundo ainda é perigoso para seres como nós. Mas eu nunca fui medrosa como eles, por não ter sofrido tanto. Sempre queimou em meu coração o desejo de sair e ser diferente, de fazer algo mais do que aceitar um destino terrível.
Talvez por causa desse desejo, minha conexão com o mundo dos sonhos foi mais fácil. No ritual da maioridade, recebi de meus pais um cachimbo feito a mão, com inscrições sagradas para recarregar o poder que deveria correr naturalmente por meu sangue, independente do conteúdo do fumo. Fui considerada uma prodígio na família, não só por desenvolver rapidamente a habilidade de criar ilusões, mas também por apresentar o poder incomum de alterar meu tamanho.
O empurrão para me tornar algo mais, foi ser salva por um daqueles super-heróis que aparecem na TV. Era noite e eu voltava do trabalho andando sozinha, até que alguns homens estranhos começaram a me perseguir e fazer piadas insinuantes. Tentei fugir deles, mas acabei encurralada. Gritei por socorro e fui atendida por um desses benfeitores superpoderosos.
Inspirada pelo ato de bondade daquele humano, pensei que podia também ajudar outras pessoas e me tornar um símbolo para o meu povo, mostrando que somos fortes e não precisamos nos esconder, enquanto provo aos humanos que nossas raças podem conviver em paz. Então, com os poderes dos meus ancestrais, tornei-me Devaneio, a primeira saci a enfrentar o medo e se tornar uma super-heroína.
Gabriel AguiarReformulado para o jogo pela Equipe FH
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