“O que foi? Parece que viu um fantasma…”
Imagem meramente ilustrativa.
De dentro de um dos túmulos mais bem cuidados do cemitério da cidade, uma figura magricela de um pálido brilho etéreo emerge, flutuando. Após estar completamente fora da terra, pousa no chão, de frente à lápide, adquirindo uma aparência um pouco mais terrena agora. Ela tenta respirar, mas não sente ar em seus pulmões. Checa seus sinais vitais, inexistentes, e admira-se pela falta de necessidade de piscar. Após estudar a lápide à sua frente por um bom tempo, reconhecendo-se na fotografia entalhada em prata, decide ir embora. “Eu era Elisabete Steiner e agora estou morta”, concluiu, flutuando lentamente até a saída do cemitério.
Elisabete era filha de um Deputado Federal de um estado do sul do país, um político conservador e populista, com uma plataforma não muito bem definida e projetos nada vantajosos para sua base mais pobre, mas que surpreendentemente mantinha o mandato há mais de 30 anos. A garota cresceu em Nova Capital e foi a princesinha de seu pai até a adolescência, quando começou a perceber que ele não era bom sujeito. Rebelou-se da melhor forma que conseguiu pensar: saía de casa sem dar satisfação, cortou e pintou o cabelo, descoloriu as sobrancelhas, fez piercings e tatuagens. Por um breve período, chegou a declarar-se publicamente satanista de forma irônica. Tudo para manchar a reputação do pai, conseguindo diminuir de forma substancial sua base aliada, que por pouco não se elegeu na última eleição. Seus pais pensavam que esta fase terminaria com a faculdade, mas Elisabete acabou frequentando círculos ainda mais extremos, culminando em sua morte clínica por overdose em uma festa clandestina. Seu velório e enterro foram feitos em poucas horas e a presença da imprensa era constante.
Quando finalmente chegou em seu antigo prédio, tornou-se invisível e nem se deu ao trabalho de tentar falar com o porteiro. Passou direto por ele e subiu até seu andar. Atravessar a porta foi tão fácil quanto todas as outras paredes e ela foi diretamente ao seu quarto, onde sua mãe estava deitada, abraçada a um moletom que ela sempre vestia. A senhora assustou-se ao vê-la (e Elisabete mais ainda, pois pensava que permanecia invisível o tempo todo) e começou a chorar desesperadamente, correndo até a então falecida filha, que tinha uma aparência levemente diferente. Ao abraçá-la, a mãe percebeu que, apesar de suas roupas manchadas e rasgadas, e o cheiro característico de quem esteve algum tempo enterrado, a garota respirava e tinha uma temperatura normal. Sorriu apenas quando encostou a orelha em seu peito e ouviu os batimentos cardíacos, agora chorando de alívio e felicidade. Apesar de ter morrido, de alguma forma a garota voltou à vida, o que trouxe à tona seus poderes. Porém, por serem tão tipicamente relacionados a fantasmas, em seu subconsciente Elisabete ignorava todos os sinais de que seu corpo estava vivo e acreditava piamente de que era apenas um espírito desencarnado.
Elisabete não entendeu ao certo o que aconteceu nas horas seguintes. Depois de sua mãe lhe dar um banho e forçar água e comida, seus pais começaram a discutir no quarto ao lado. Seu pai temia que a repercussão de sua filha viva pudesse comprometer sua campanha, o que para ela era estranho, já que tinha certeza de que permanecia desencarnada, apesar de poder interagir com o plano físico. À medida que a discussão avançava, sua impaciência crescia e, sorrateiramente como entrou, saiu. Sua lógica interna dizia que estava presa àquele plano porque, quando pôde ajudar pessoas que tiveram as vidas prejudicadas pelas políticas de seu pai, preferiu embriagar-se e fugir dos problemas. Tal como os supers que seu pai ora combatia, ora apoiava, decidiu rondar a cidade, utilizando suas habilidades fantasmagóricas para ajudar quem estivesse em problema, com esperança de que com isto seu espírito pudesse finalmente descansar.
Gabriel MartinsReformulado para o jogo pela Equipe FH
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