“Vê se não se apega, bonitão, que eu sou difícil de prender.”
Imagem meramente ilustrativa.
Sinceramente? Eu nem me lembro de como era a minha vida antes do “Orfanato”, mas me lembro bem do meu primeiro dia lá. Eu tinha 8 anos, e estava perdida, havia viajado por mais de cinco dias de carro com um homem que eu nunca havia visto na vida. Quando chegamos lá, confesso que fiquei vislumbrada com a visão daquela mansão, mas ao mesmo tempo, minha espinha gelou. Após conversar com uma mulher por alguns minutos, ele foi embora, passando por mim sem nem olhar no meu rosto. Anos depois descobri que ele era apenas um “olheiro” dessa mulher, a diretora do Orfanato.
Eu e mais algumas outras crianças fomos levadas para uma sala, sem saber o que fazíamos lá. Uma em especial me chamou bastante atenção, Alana, uma menininha 3 anos mais nova que eu. Ela chorava muito, assustada, pois além de não saber o que estava acontecendo, algumas partes do seu corpo estavam translúcidas. Eu abracei ela e tentei confortar. Pouco depois, a diretora se apresentou a nós e explicou o que estava acontecendo, fomos rastreadas devido aos nossos poderes especiais, que sequer sabíamos possuir, e estávamos lá para sermos treinados.
Na época, mesmo na minha inocência, muitas questões vieram à minha cabeça para serem levantadas, mas não tive coragem suficiente para falar, e assim como todas as crianças ali, apenas aceitei o que estava por vir. Bom, querendo ou não, foi bom para mim. Pelos próximos anos, fomos treinadas nas mais diversas artes, como combate, artilharia, línguas e espionagem, aprendendo a melhor forma de usar nossos poderes. Eu e Alana, especialmente, por estarmos tão unidas num laço de irmandade afetiva, crescemos como as melhores do Orfanato, o que nos garantiu uma posição privilegiada no grupo de elite do instituto. Éramos chamados de relíquias, e cada um recebeu um codinome de acordo com um anel que havia recebido. Eu recebi um anel de Safira, e Alana um de Cristal.
Por estar entre os melhores, nossas exigências também se tornaram maiores, com treinamentos ainda mais rigorosos. Apesar de estar tão envolvida, nunca deixei de questionar qual era nosso propósito ali, motivo pelo qual sempre fui tida como a ovelha negra do Orfanato. Alana por outro lado, mesmo com minhas conversas, estava tão imersa naquele ambiente que se tornou a número um da nossa diretora, e tentava sempre me puxar para a mesma imersão… pff, tão inocente.
Pouco depois, comecei a obter respostas quanto ao propósito, não eram bem o que eu esperava, e sim, sujei minhas mãos por conta do orfanato e deixei minha conta bastante…vermelha, agindo bem ao estilo maquiavélico de que “os fins justificam os meios”, e bom, o nome Safira se tornou conhecido no mundo. Já Cristal, sem questionar, aceitava todas as missões a ela incubidas, cumprindo de maneira efetiva todas as suas tarefas, como um pet bem treinado. Foi nessa época que nossos laços de irmandade começaram a se romper, pois ela não aceitava eu não ser tão subordinada quanto ela.
Minha… digamos, “libertação”, aconteceu quando recebi a missão de infiltrar na PEGASUS, recuperar dados sensíveis e assassinar um de seus comandantes, Tremor. Segundo a inteligência do Orfanato, ele era suspeito de tráfico humano, apesar de ser visto como um super-herói aos olhos da população. Durante a missão, contudo, descobri que os dados que precisávamos recuperar eram justamente sobre uma investigação sobre o Orfanato, o lugar em que eu cresci e fui moldada. Agora sabendo que tudo que eu questionava de fato era uma falsa realidade, me deixei ser capturada por Tremor e realizei um acordo com ele.
Sob a proteção da Pegasus, me tornei um verdadeiro ás para a organização, auxiliando os oficiais e agentes em missões em solo nacional e internacional e prestando informações acerca do funcionamento do Orfanato, mas secretamente ainda agindo aos os interesses do instituto em que cresci e fui moldada, como uma agente dupla, espionando e coletando informações que auxiliavam.
Passei a viver sob o fio da navalha, sabendo que um dia todo meu plano seria descoberto por ambos os lados. Qual o meu plano? Alcançar o que eu sempre desejei por todos esses anos, a liberdade de me ver independente de todas as organizações que tentem me usar. Nunca fui de fato leal ao Orfanato, muito menos à PEGASUS. Sou leal apenas a mim mesmo, mas querendo ou não, talvez precise de ajuda para enfrentar minha tutora e seu império, e por alguma razão só consigo pensar em uma pessoa a quem recorrer. Magnum, um vigilante com quem tive alguns encontros, alguns amigáveis e outros nem tanto, mas apesar disso me sinto capaz de confiar nele.
Ah.. quem é minha tutora? Ah sim, já ia me esquecendo de contar o ponto mais importante. Olga Vidal… ou melhor, Madame Vidal, uma meta humana com poderes de rastreamento, anulação e ampliação de super-poderes, desertora da Cerberus, procurada em mais de 40 países, e nada mais do que a mente criminosa por trás do “Orfanato”, uma agência de inteligência internacional de criação de super mercenários, assim como eu.
Daniel Cavalheri
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