“Não mexe comigo, se não vai acordar um dragão… literalmente!”
Imagem meramente ilustrativa.
Sabe, existe uma história que minha bisavó contava, mas que eu nunca acreditei muito bem, até alguns anos atrás… Ela dizia que muitos séculos no passado, o patriarca da família Jing roubou uma relíquia preciosíssima de uma poderosa família lá na China, que prometia trazer prosperidade para seus descendentes, desde que sempre mantivesse com eles: um pequeno dragão de bronze com esmeraldas cravejadas. Só que como nem tudo são flores, a relíquia também trazia uma maldição, nenhum homem da família sobrevivia além dos 10 anos de idade… uma maldição complementar a uma benção… quase como Yin Yang, sabe?
Pra ser bem sincera, nunca acreditei nessa historinha, sabe? Pra falar a verdade, já cheguei a sentir até raiva quando escutava ela. Sempre acreditei que era apenas pra explicar algumas coisas da minha família, tipo, de onde vem toda a riqueza e sorte que a gente carrega, de como conseguimos o que queremos, e pelo fato de que o sobrenome Jing sobreviveu por tanto tempo através das mulheres, mesmo com uma China tão patriarcal, e até mesmo no Brasil quando minha bisa imigrou e manteve toda a riqueza dela. Além disso, sei que um irmão da minha bisavó também havia falecido quando criança, e eu sempre tive certeza que era só por isso que ela tinha tanto medo sempre que surgia alguma nova gravidez na família.
Foi assim quando eu nasci, foi assim com minhas primas também, mas quando meu irmão nasceu, o pânico foi geral. Não apenas a minha bisavó, mas minha avó, minhas tias e até minha mãe ficaram preocupadas. Eu era nova na época, não entendia muito bem o porquê de tanta preocupação, era apenas mais um catarrentozinho na família, nada além disso. Mas quando ele começou a apresentar os primeiros sinais de anemia, eu também fiquei preocupada. Será que era real toda essa história mística de prosperidade e maldição?
As mulheres Jing haviam aceitado muito fácil a condição do meu irmão, como se já estivessem se preparando para a morte dele, mas eu não conseguia aceitar isso como elas. Era meu caçula, meu catarrentozinho, e se eu já protegi ele de bullying e xenofobia na rua, não ia deixar uma história mal contada definir seu destino. Resolvi investigar melhor sobre essa história, o tal dragão de bronze estava bem escondido no quarto da minha bisa, ele era menor do que eu esperava, pouco maior que a palma da minha mão. Debaixo dele, oito trigramas como se fossem botões… aff… era um Ba Gua. Não me lembrava bem das aulas de taoísmo que minha bisa dava, mas lembro de algumas coisas. Comecei a apertar os botões para formar os arranjos que eu lembrava… até chegar no céu primordial.
Uma nuvem esverdeada saiu da estatueta e cobriu todo o quarto, e de repente, já não estava mais no quarto, mas sim num campo de arroz, quando emergiu do solo um dragão esverdeado envolto em lavar. Não me lembro bem das palavras exatas, mas ele se apresentou para mim como um Fucanglong, se dizia um protetor da humanidade e era ele quem protegia a riqueza da família, mas como os homens eram mais ganancioso que as mulheres, não podia arriscar que eles destruíssem a prosperidade que ele havia concedido.
Eu podia ter ficado quieta naquele momento, mas como a minha boca é muito grande eu retruquei e disse que não tinha como ele saber se um garoto de 10 anos de idade poderia destruir a sua riqueza. Dessa vez eu lembro bem de suas palavras. “COMO OUSA QUESTIONAR MINHA SABEDORIA?”, ele gritou comigo, bastante irritado. Na hora eu confesso que fiquei com medo, mas não podia desistir de tentar salvar meu irmão, e foi justamente isso que eu pedi para ele, que poupasse a vida do meu catarrentozinho. Só então percebi que ele estava fazendo um jogo comigo, pois perguntou que garantia eu poderia dar. O que eu poderia oferecer pela vida do meu irmão? Como eu poderia garantir que ele seria menos ganancioso do que eu mesma?
Daí veio o estalo em minha mente, e sem pensar duas vezes eu disse “me leva no lugar dele”. Ele se assustou com minha resposta, mas ao mesmo tempo riu, pois era a última coisa que ele esperava ouvir de um mortal. “Um mortal ganancioso jamais iria oferecer a própria vida no lugar de outro. Sua vida é sua riqueza mais preciosa, e em troca da vida do seu irmão, eu vou tomar a sua para mim. A verdadeira riqueza não está no ouro e na prata, mas sim naquilo que seu coração mais deseja…”, ele disse, antes de voar na minha direção.
Eu acordei no dia seguinte na minha cama, deitada. Minha bisa disse que eu havia desmaiado no quarto dela. Perguntei pelo meu irmão, e ele havia melhorado da anemia, mas ainda iria fazer novos exames. Foi quando percebi que tudo aquilo que eu tinha vivenciado foi real, só não sabia como havia acontecido. Desde então, esse Fucanglong tem falado em minha cabeça como uma consciência moral, me mandando proteger a humanidade como eu nunca havia feito antes, me mandando agir melhor que a maioria dos super-heróis de Nova Capital, me mandando salvar vidas, assim como me dispus a salvar a vida do meu irmão.
Equipe FH em conjunto com os apoiadores do projeto.
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