"Se quiser jogar comigo, é melhor ter certeza que conhece o jogo".
Imagem meramente ilustrativa.
Meu nome é João Pedro Silva, “JP” pros mais próximos. Como muitos, sou só mais um pretinho qualquer de periferia cheio de sonhos, mas também cheio de desafios pelo caminho. Nova Capital não é fácil, aqui o preconceito e a desigualdade batem forte na nossa cara, mas eu não abaixo minha cabeça não, tá ligado?
Eu sou daqueles moleques que foi criado pela vó saca? mas não de condomínio criado a leite com pêra e nutellinha, aqui a gente rala desde cedo.
Minha mãe era meio vida loca, se meteu com gente da pesada e foi presa quando eu ainda era criança, tá lá até hoje... Ai sobrou pra minha vó me criar, já que meu pai eu nem sei quem é.
Pra ajudar lá em casa eu me viro como posso, faço bicos, entregas, etc… Geralmente pego minha bike e saio por ai pra ganhar meus trocados, não é muito mas ajuda.
Numa dessas entregas eu acabei sendo atropelado, o acidente foi feio. Minha bicicleta foi pro saco, ficou em pedaços, o carro do bacana que me atropelou também estragou legal, cê acredita que o otário me atropelou e saiu vazado? Nem pra ver seu eu tava bem, se eu tava vivo… enfim, o mais louco dessa história, é que eu nem me machuquei, tive uns arranhões de leve, e só. Com o impacto que foi a batida era pra eu ter quebrado feio, ou pior, ter morrido, mas não, sai inteirão.
Aquilo foi bizarro, mas o mais doido ainda foi o que aconteceu depois, nos dias que vieram a seguir eu tava me sentindo cada vez mais forte, e tava mesmo. Conseguia erguer uma geladeira sem fazer muito esforço e tava com um pique pra subir e descer o morro correndo sem me cansar.
Seja lá o que estivesse acontecendo comigo eu tava me sentindo poderoso, dava até vontade de sair por ai e fazer algo com esses “dons” que estavam surgindo. Mas por aqui, gente como eu tem que andar na míuda, se não a casa cai….
Com medo de arranjar encrenca e sem saber como proceder com isso tudo que tava acontecendo, eu tava na minha tentando não dar bandeira, levando a vida de sempre,normalmente, e por um bom tempo isso deu certo.
Até o dia em que presenciei um assalto. Dois caras em uma moto pararam uma moça grávida.
Na hora nem pensei, botei o capuz na cabeça e fui pra cima deles, não vi que um tava armado. Vacilo meu. Assim que eu cheguei, o cara se virou e atirou, aquilo bateu no meu corpo, ardeu na hora, mas foi só, eu nem sabia que era a prova de balas, na hora eu fiquei puto, afundei a mão na cara do sujeito, o parça foi ligeiro, tentou correr, mas eu fui mais. Dei uma disparada sinistra, um pulão de 15 metros, sei lá, o cara não teve chance.
Foi muito louco, mas ai eu percebi que tinha gente filmando, eu entrei em choque, sai vazado do lugar, corri como nunca.
Pra minha sorte ou azar, o vídeo foi parar na rede. A tiazinha que gravou ficava gritando “incrível, incrível ” enquanto eu quebrava os manés. Ai meio que o vídeo viralizou na quebrada, as testemunhas deram até entrevista e apelido de “Incrível” pegou. Não é o melhor codinome, mas é o que tem pra hoje. E sabe, esse lance de heroísmo, eu até achei maneiro, sei lá, parecia que eu podia ser algo a mais do que só mais um pras estatísticas... Surpreender saca? Sempre esperam o pior da gente, eu queria sair da curva, fazer algo bom. Quem sabe eu não consiga inspirar essa molecada nova?
Desde então eu venho tentando conciliar a escola, com meu trampo e a vida heroica. E tá bem puxado viu, mas quem sabe lá na frente as coisas não melhorem?
Esses tempos atrás até surgiu um convite pra eu fazer parte de uma equipe junto com outros heróis, os “Invencíveis”. E cara, na moral, eu tô achando muito maneiro fazer parte disso, eu tô aprendendo muita coisa nova, inclusive ter mais controle sobre meus poderes. Eu sinto que to fazendo a diferença pras pessoas, pra essa cidade, e é isso o que eu quero pra minha vida.
Fernando Gondolo
Veja os defensores do Universo da Fábrica de Heróis